A mobilidade elétrica vem deixando de ser apenas uma tendência e se consolidando como um pilar das cidades inteligentes - um conceito que integra tecnologia, sustentabilidade, planejamento urbano e qualidade de vida. No Brasil, onde os desafios urbanos ainda passam pela poluição do ar, congestionamentos crônicos e infraestrutura deficiente, a eletrificação do transporte é uma oportunidade concreta de transformação.
Cidades inteligentes utilizam dados e tecnologia para otimizar serviços públicos e melhorar a vida da população. A mobilidade elétrica, nesse contexto, é mais do que um meio de transporte limpo, ela se conecta a redes de energia inteligente (smart grids), à infraestrutura de recarga distribuída, ao uso de dados em tempo real e à redução significativa das emissões de gases de efeito estufa. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), os veículos elétricos evitaram a emissão de 120 milhões de toneladas de CO₂ em 2023. E esse número tende a crescer à medida que mais cidades adotam políticas de descarbonização.
“A eletromobilidade se conecta diretamente ao planejamento urbano, ao meio ambiente e à inclusão social. Quando integramos veículos elétricos a um ecossistema urbano inteligente, reduzimos ruído, melhoramos a qualidade do ar e criamos formas de acesso à mobilidade em regiões antes negligenciadas. Não se trata apenas de substituir motores, mas de repensar como e por que nos movemos nas cidades”, afirma Silvio Rotilli, CEO e cofundador da Auper - empresa especializada em tecnologia e mobilidade elétrica.
No Brasil, o crescimento do setor é acelerado. O número de veículos elétricos em circulação aumentou mais de 1200% nos últimos cinco anos, impulsionado por incentivos fiscais, inovação local e mudanças no perfil do consumidor. De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o país alcançou a marca de 250 mil veículos elétricos em circulação em 2024, com destaque para soluções de micromobilidade, como motos e scooters elétricas.
Outro aspecto central é a sinergia entre mobilidade elétrica e energia renovável. Com 84% da matriz elétrica brasileira composta por fontes limpas, segundo o Ministério de Minas e Energia, o uso de veículos elétricos no Brasil tem impacto ambiental ainda mais positivo do que em países com matriz baseada em combustíveis fósseis.
Iniciativas como estações de recarga rápida, sistemas de gerenciamento de frota, integração com transporte público e plataformas digitais de mobilidade são exemplos práticos de como a eletromobilidade está se entrelaçando ao conceito de cidade inteligente. Com a popularização de veículos conectados e softwares embarcados, as cidades poderão usar dados de tráfego em tempo real para otimizar rotas, reduzir tempo de viagem e mitigar congestionamentos, um avanço não só tecnológico, mas também social.
A experiência de países como Noruega, Alemanha e China mostra que a combinação entre políticas públicas bem desenhadas, investimento em infraestrutura e estímulo à produção local é determinante.
“Para que a mobilidade elétrica se consolide como um vetor de cidades inteligentes, é fundamental o engajamento de governos, setor privado e população. A transição não é apenas tecnológica, é cultural, política e econômica. E, se bem conduzida, pode transformar os centros urbanos brasileiros em modelos globais de sustentabilidade e inovação”, conclui Rotilli.