
Por Vicente Abate*
As mudanças climáticas não são mais uma previsão distante; elas estão aqui, manifestando-se em eventos extremos como secas severas e enchentes devastadoras. É imprescindível reconhecer que somos parte desse cenário, mas também temos o potencial de construirmos a solução.
Em 2015, a ONU lançou a Agenda 2030, com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Este é um convite urgente à transformação do mundo em um lugar mais justo, equilibrado e sustentável. Contudo, ainda falta um engajamento mais ativo de muitos setores da sociedade. Precisamos fazer mais e com urgência.
A Agenda 2030 é sustentada por cinco pilares fundamentais — os 5 Ps: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias. Devemos garantir que ninguém seja deixado para trás; a dignidade, acesso à saúde, educação e oportunidades devem ser uma realidade para todos. Nossa casa comum, o Planeta, deve ser protegida e a preservação dos recursos naturais é vital para nossa sobrevivência. Um mundo sustentável também deve proporcionar prosperidade com justiça e equidade, e a paz é essencial para que sociedades justas, seguras e inclusivas possam realmente prosperar. Além disso, é necessário estabelecer Parcerias, porque a mudança só acontece quando unimos forças — governos, empresas, comunidades e indivíduos.
Talvez devêssemos adicionar um sexto “P”: Prioridade. O compromisso com a sustentabilidade precisa ser mais do que uma ideia bonita; é preciso que ele se torne ação concreta, imediatamente. Nesse cenário, as práticas de ESG — que representam o compromisso com o Meio Ambiente, a Responsabilidade Social e a Governança ética e transparente — não são apenas uma tendência corporativa, mas um novo modelo de consciência e responsabilidade.
No contexto da sustentabilidade, a indústria ferroviária apresenta-se como um vetor crucial para o desenvolvimento econômico e social do Brasil e do mundo. O transporte ferroviário de cargas é um dos meios mais eficientes para movimentar produtos a longas distâncias.
De acordo com dados divulgados pela ANTF – Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários – intitulado “Porque o Brasil vai bem de trem”, as ferrovias são responsáveis pelo transporte de cerca de 20% da carga no Brasil, enquanto suas emissões correspondem a apenas 2,63% do total do setor no país. Para ilustrar a eficiência das ferrovias, a cada 1% de aumento na participação desse modal na matriz de transporte de cargas, evita-se a emissão de 2 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂), o que equivale ao replantio de uma área de floresta nativa do tamanho da Região Metropolitana de São Paulo, anualmente.
Historicamente, o Brasil tem um imenso potencial a ser explorado no que concerne ao transporte ferroviário de passageiros e de cargas. A revitalização do sistema ferroviário pode não só alavancar a economia, mas também melhorar a qualidade de vida nas cidades. O acesso a um transporte público eficiente, como os trens, reduz o tráfego urbano, melhora a qualidade do ar e diminui a poluição sonora. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as cidades que investiram em transporte ferroviário reportaram uma melhoria de cerca de 15% na mobilidade urbana e redução de 30% no tempo de deslocamento.
A indústria ferroviária, ao adotar práticas sustentáveis como locomotivas e trens movidos a hidrogênio verde e vagões de carga com design aerodinâmico, demonstra que é possível inovar sem prejudicar o meio ambiente. Com essas ações, o Brasil se posiciona como um potencial líder no mercado global de transporte sustentável, aproveitando suas vastas fontes de energia limpa, como a eólica, hídrica e solar.
O futuro está sendo escrito e exige coragem, visão e escolhas conscientes. Vamos transformar os ODS, o ESG e o compromisso com o planeta em ações diárias e novas rotas para a humanidade. O que está em jogo não é apenas o amanhã, mas também o hoje — tudo que podemos e devemos preservar, agora.
* Vicente Abate é presidente da ABIFER - Associação Brasileira da Indústria Ferroviária