Por Sandro Christovam Bearare*
O Brasil registrou em 2024 um aumento de 17,5% na produção de carros blindados. Segundo a Associação Brasileira de Blindagem, 34.402 veículos com proteção contra projeteis foram emplacadas no país no último ano. Este foi o terceiro ano consecutivo de aumento nessa estatística.
De acordo com a entidade, a produção foi de pouco mais de 20 mil unidades em 2021, número que saltou para 25.916 em 2022. Em 2023, com o fim da pandemia da Covid-19, os emplacamentos subiram para 29.296. A frota blindada do país se aproxima dos 400 mil carros.
As marcas com maior produção de blindados em 2024 foram Toyota, Jeep, BMW, Volkswagen e BYD. O levantamento da associação mostra uma participação cada vez maior de carros eletrificados (elétricos ou híbridos) entre as unidades que recebem proteção.
O estado de São Paulo lidera o ranking nacional, concentrando quase 85% das blindagens realizadas em 2024, com 28.962 unidades. Na sequência aparecem Rio de Janeiro (2.669 blindagens), Ceará (992), Pernambuco (843) e Rio Grande do Sul (395). Entre os destaques, o Rio de Janeiro registrou um expressivo crescimento de 44% em relação a 2023, quando teve 1.852 veículos blindados. Exceto pelo Rio Grande do Sul, os demais estados apresentaram alta na procura pelo serviço.
Para o especialista em segurança, pós-graduado em Perícias Criminais e Ciências Forenses Sandro Christovam Bearare, o crescimento contínuo do mercado de blindagem é uma resposta da sociedade ao aumento da criminalidade.
“Não teríamos uma produção tão grande de carros blindados se o Brasil fosse uma país em que as pessoas se sentem seguras. A violência, sobretudo a armada, é um medo que aflige a nossa população, que busca diferentes formas de se proteger”, analisa.
Bearare, contudo, ressalta que andar em um carro blindado não garante segurança se as pessoas não adotarem outras medidas. “Segurança se faz com planejamento e atenção. Não adianta estar em um carro blindado se a operação de saída do veículo leva mais tempo que o necessário ou se a sua rotina é tão previsível que pode ser decorada por alguém com más intenções”, completa.
Blindagem não é escudo absoluto
A blindagem oferece proteção balística, mas não protege contra erros de procedimentos. É uma ferramenta, não uma solução completa. Existem níveis de proteção além da blindagem física — e o comportamento do motorista continua sendo o fator mais determinante na sobrevivência.
Evite rotinas previsíveis
Varie trajetos e horários. O maior erro de quem tem blindado é acreditar que pode manter a mesma rotina. Criminosos estudam padrões. Repetição é vulnerabilidade.
Nunca pare o veículo em zonas críticas
Evite parar próximo a esquinas, entradas de comunidades, becos, locais escuros, áreas sem câmeras ou com visibilidade comprometida. Mantenha o carro sempre em posição de rápido deslocamento, mesmo quando estiver parado.
Treine entrada e saída com fluidez e atenção
Saídas e entradas devem ser rápidas e coordenadas. Evite usar celular, ajustar espelhos ou se maquiar nesses momentos críticos. Treine com os ocupantes para agir com fluidez, foco e mínima exposição, como em uma transição sob risco.
Revise a blindagem e desative automatismos perigosos
Blindagem é como colete: exige manutenção. Revise vidros, portas, sistemas elétricos e borrachas de vedação a cada 6 meses. Configure o carro para não abrir ou fechar portas automaticamente — tudo deve ser manual e treinado como procedimento padrão.
Não ostente o carro blindado
Blindado de luxo chama atenção. E atenção demais atrai riscos. Mantenha discrição, principalmente em áreas de risco elevado. Aparência comum, comportamento tático.
Não confie nos vidros semiabertos
Evite abrir parcialmente o vidro blindado – mesmo com sistema de “half open”. Isso cria uma brecha crítica em ataques rápidos. Janela é ponto fraco: mantenha fechada sempre que possível.
Use película escura e evite mostrar ocupantes
Manter a visibilidade interna baixa protege sua identidade e reduz riscos de abordagem planejada. A ideia é parecer um “veículo comum” em todos os sentidos.
Simule situações reais e reforce as reações
Treine procedimentos de segurança, manobras de evasão e resposta a emboscadas. Isso reduz drasticamente o tempo de reação e aumenta a confiança dos ocupantes. Em qualquer atentado, nunca fique parado: fuja da zona de confronto.
Invista em formação e consultoria constantes
Segurança se atualiza. Participe de cursos especializados, treinos práticos e mantenha acompanhamento com especialistas em proteção veicular. Informação, prática e estratégia valem mais que qualquer nível de blindagem.
*Especialista em Segurança, Instrutor e Autor de “Condomínio Blindado”