
Por Claude Domingues Padilha*
A transformação que se desenha nas ruas vai muito além de motores silenciosos ou da ausência de fumaça. Trata-se de uma mudança estrutural na forma como as cidades operam, impulsionada pela adoção crescente de vans elétricas no setor logístico. Mais do que uma inovação tecnológica, essa evolução representa uma resposta prática e estratégica à crise ambiental que vivemos. A eletrificação das frotas de entrega não é apenas uma alternativa moderna: é uma necessidade urgente.
Diante da pressão por práticas mais sustentáveis, as empresas que atuam com transporte urbano precisam agir com responsabilidade e inteligência. As vans elétricas vêm se consolidando como uma solução eficaz, contribuindo significativamente para a redução das emissões de CO₂ e da poluição sonora. Hoje há vans elétricas que não emitem CO₂ durante sua operação, o que representa um avanço direto na qualidade do ar urbano e na redução de gases de efeito estufa. E mesmo considerando todo o ciclo de vida, da produção ao descarte, esses veículos ainda geram menos da metade das emissões de um modelo a combustão, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA). Ignorar esse movimento é resistir a uma transformação inevitável e caminhar na contramão de um futuro mais limpo e eficiente.
E não se trata apenas do planeta; trata-se também de pessoas. O comportamento do consumidor está mudando rapidamente. Mais atentos e informados, os clientes valorizam marcas que demonstram compromisso com causas ambientais. A pesquisa global da Deloitte (2023) mostra que 55% dos consumidores esperam práticas sustentáveis das empresas, e 32% já deixaram de comprar de marcas que não demonstraram responsabilidade ambiental. Nesse novo cenário, empresas que eletrificam suas frotas não estão apenas fazendo a coisa certa, estão atendendo às novas exigências do mercado.
Além dos ganhos ambientais e de imagem, existe uma lógica econômica clara nessa transição. Apesar do investimento inicial mais alto, as vans elétricas oferecem economia real ao longo do tempo. De acordo com a BloombergNEF, o custo total de propriedade (TCO) desses veículos já é mais competitivo do que o dos modelos a combustão em diversos mercados. O custo por quilômetro rodado é menor, a manutenção exige menos, graças à simplicidade dos motores elétricos, e quando a van de carga elétrica traz fatores de maior agilidade na operação e maior capacidade de carga, ela é imbatível no TCO.
Os desafios, claro, ainda existem. A infraestrutura de recarga no Brasil ainda é limitada, mas está em expansão. A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) informa que o país já conta com mais de 4.000 pontos de recarga públicos, um aumento de quase 30% em relação ao ano anterior. O custo de aquisição ainda é alto, especialmente para pequenas empresas, mas com políticas públicas e estratégias ousadas, a transição pode ser acelerada.
E bons exemplos já estão aí. Fornecidas por uma startup do setor, a Amazon colocou mais de 10 mil vans elétricas em circulação nos EUA, parte de um plano para chegar a 100 mil até 2030. No Brasil, empresas como Mercado Livre e To do Green, responsável pela frota elétrica da Amazon no país vêm adotando veículos elétricos em suas operações com resultados positivos em eficiência e imagem de marca. As vans elétricas não são apenas veículos: são um símbolo de um novo tempo. Um tempo em que desenvolvimento econômico e compromisso ambiental não são opostos, mas aliados. A revolução verde na logística está em curso, e quem não acelerar agora pode acabar ficando para trás em uma estrada sem volta.
*Claude atua há mais de três décadas no setor de produtos para o transporte de carga, compreendendo a distribuição urbana, rodoviária e ferroviária. Diretor comercial da Arrow Mobility, economista pela UCS, com MBA em Marketing e Gestão Empresarial pela FGV e MBA em Desenvolvimento de Negócios pela Dom Cabral.